Os
modelos teóricos em ciência são construções mentais concebidas para dar conta
dos fenómenos observados ao mundo natural. A sua origem está na combinação da
imaginação com a criatividade na procura de uma verdade científica adquirida pelo
conhecimento interactivo, que tente explicar todo o processo de evolução humana
que se desencadeou há milhões de anos.
A questão está em saber se vamos partir das
partes para o todo na presunção de que poderemos descobrir a lei geral, ou se,
no reconhecimento desta impossibilidade, partimos do todo para as partes,
através da construção de um modelo hipotético dedutivo que poderá dar ou não
resposta à evolução humana.
No
domínio do desenvolvimento humano através de uma metodologia lógica hipotético
dedutiva é necessário desde logo ultrapassar a perspectiva reducionista do
método cartesiano, sustentada numa lógica empírico-racionalista de analisar e
explicar o homem.
Quer dizer não se trata de estabelecer uma
dada lei universal através da utilização de uma fórmula estandardizada,
construída através de uma determinada amostra que será tão grande quanto maior
for o nosso tempo, os nossos recursos tecnológicos e económicos disponíveis.
A
implicação deste facto é que as estruturas novas e complexas surgem
provavelmente numa série de etapas, e não num único ponto de partida. Um
impedimento surge, visto que a evolução ocorre provavelmente por selecção
natural, cada passo deve ser um melhoramento tanto no que respeita à
sobrevivência, como à reprodução, ou pelo menos, não poderá ter um efeito,
seriamente diminutivo.
A conservação
do plano básico é então uma consequência de evolução a funcionar em pequenos
passos, consertando o que já existe e não eliminando a estrutura existente.
Trata-se
de idealizar um paradigma conceptual que organize de uma forma dinâmica uma
constelação de elementos articulados, organizados num modelo estruturado que
seja capaz de representar uma dada visão global que posteriormente poderá ou
não responder às questões formuladas por nós.
Segundo o primatólogo Jim Moore, pressupõe um
determinado tipo de modelo que seja capaz de explicar, num quadro mais amplo, a
evolução humana distinguindo-se de uma teoria baseada em fontes diversas que
tenta explicar um fenómeno natural através da sua capacidade preditiva.
Para
estudar a evolução humana é necessário criarmos hipóteses e retrospectivas
sobre as nossas origens, seleccionando no universo um conjunto de adaptações possíveis
e explicativas do passado evolutivo.
Apesar
do seu enorme poder explicativo, os modelos evolucionários não são realidades
históricas, simplesmente limitam-se a descrever e a interpretar a própria história da evolução
humana. A construção do modelo conceptual de evolução humana primitiva não tem
outra hipótese senão recorrer a uma forte analogia com algum primata da mesma
família, vivo e bem estudado. O antepassado humano não era exactamente como
qualquer deles e talvez fosse tão diferente que recorrer a algum exemplo seria contraproducente.
Podemos
construir um retrato de um antepassado hominídeo com base no comportamento de
uma ou de algumas espécies vivas muito semelhantes. Mas a maior parte dos
modelos tenta usar a evidência empírica proveniente de uma variedade de disciplinas
transdisciplinares servindo de ponto de partida o chimpanzé.
Os
modelos da génese dos hominídeos mais importantes são aqueles que combinam um
conjunto de características transdisciplinares das diversas ciências humanas,
permitindo a construção de um modelo interactivo de um sistema evolutivo.
A
desmistificação das origens humanas está por resolver, os investigadores terão
de utilizar uma investigação policial para a compreensão do enigmático problema
da sua génese investigadora ao longo dos tempos, quer por meios tecnológicos
quer por conhecimento heterogéneo.
O
processo de estudo das origens humanas relaciona-se com uma visão egocêntrica
que muitos investigadores têm acerca do mundo antigo. O constrangimento do
conhecimento pela investigação do presente permite muitas vezes uma fraca
interpretação do passado.
Para
Medawar, a ciência não pode responder às questões últimas sobre o sentido da
vida, a procura de teorias que possam incluir factos pode ou não ser ilimitada,
há sempre um sítio mais além aonde ir, e a ciência é um bom método para lá se
chegar.
A
ciência não tem limites, define paradigmas nos quais muitos de nós trabalham
para encontrar respostas com significado às grandes questões que preocupam os
humanos.
A
sequência evolucionária dos fósseis humanos nunca estão completas, haverá
sempre quem procure uma falta de ligação entre os símios e os humanos. Por
definição o elo que falta é o antepassado comum mais recente dos humanos,
provavelmente terão sido os grandes símios originários da separação das duas
linhagens compreendidos no fim do Mioceno ou no princípio do Plioceno.
O conceito de antepassado comum poderá ser
considerado uma metáfora do processo complexo da hominização das duas espécies
de primatas modernos poderá funcionar como um rio que atinge a sua foz
ultrapassando os diversos obstáculos através de ramificações de uma população
de macacos em diversas populações mais pequenas. Ao longo de milénios cada
população segue o seu percurso evolucionário através de uma sucessão de adaptações
que atingem uma população, mas não atingem a outra. O produto será um somatório
de adaptações que se evidenciam em populações diferentes ao nível genético,
morfológico, comportamental de forma distingui-las em espécies diferenciadas.
Os critérios de reconhecimento das populações como espécies distintas dependem
do conceito de espécie que utilizamos.
O
modelo hipotético de uma população ter dado origem a outras populações deverá
ser posto em causa?
Face
à diversidade de populações no qual cada uma delas apresenta ligeiras
características ao nível genético, morfológico e comportamental, actualmente, a
variação destas populações verifica-se ao nível geográfico.
A
hipótese de que houve uma ou várias populações de antepassados símios tenha
originado os hominídeos, não deverá ser utópico atendendo à explicação mais
provável da diversidade multipopulacional baseado na ciência genética humana.
Face
aos meios tecnológicos existentes ainda temos uma fraca informação sobre os
registros fosseis levando muitas vezes os investigadores de diversas áreas a
uma limitação do conhecimento. Com a análise dos registros fósseis podemos
construir um modelo comportamental lógico do nosso antepassado comum em
comparação ao modelo comportamental dos primeiros hominídeos.
Numa
perspectiva antropogenética é possível perceber as transformações evolutivas
dos animais o que nos explicam a origem da espécie humana. Através do
conhecimento dos conceitos interligados de forma equilibrada, poderá explicar o
desenvolvimento da espécie humana num conjunto de adaptações e desenvolvimentos
das várias mutações genéticas, de forma compreender na sua complexidade,
diferentes pistas de conhecimento que futuramente poderão ser aplicadas em
novas investigações.
A divergência do
conhecimento e não a sua compartimentação disciplinar não permite uma visão
global da realidade. Cada ciência fechada no seu domínio não possui mais do que
uma pequena parte do conhecimento. Esta pequena parte do conhecimento só tem
valor em si mesmo quando for associado a vários conhecimentos.
Christopher Brandão, 2017