O produto
social da infância abandonada identifica-se em três fases distintas de
evolução:
- A primeira
fase tem caráter solidário.
- A segunda fase apresenta-se por um caráter
filantrópico.
- A terceira
fase é caraterizada pelo bem-estar social e psíquico da criança
Movidas
pelo sentimento paternalista, a fase solidária associa-se ao período colonial
até meados do século XIX, onde se inicia a assistência de crianças abandonadas
e ilegítimas.
As mudanças sociais realizadas pela
assistência de origem religiosa, cujo ato de caridade era em prol da
beneficência, no qual recolhiam os recém-nascidos deixados próximos das casas,
das igrejas, ou de outros estabelecimentos alternativos, onde a recompensa dos
benfeitores era a salvação das suas almas pecadoras.
A partir
do século XVIII, as famílias ou os indivíduos pertencentes às Misericórdias,
sustentavam as crianças abandonadas, e por sua vez começaram a enfrentar
problemas administrativos e financeiros.
Com o
liberalismo da sociedade, houve uma tendência de agir solidariamente, que foi
diminuindo ao longo do tempo. Assim, surgiu a fase filantrópica na assistência
às crianças pobres que passaram a depender financeiramente dos governos e que
por sua vez, passou a controlá-las por meio de normas às respetivas
instituições de solidariedade.
A última
fase da assistência à infância abandonada surgiu no final do século XX. Os
governantes no poder político introduziram o conceito do bem-estar social que
passou assumir um papel de responsabilização para todos aqueles que cuidam e
protegem as respetivas crianças abandonadas.
A assistência
às crianças em situação de desamparo, aconteceu efetivamente com a aprovação do
estatuto da criança pelo Ministério Da Justiça. Começaram a ser consideradas
sujeitos com direitos por lei estabelecida no campo das políticas de
assistência da população infantojuvenil que necessitasse de proteção jurídica
do Estado.
A
assistência infantil é passível de uma análise histórica descontínua que possibilite
a sua construção demagógica. Sendo assim, os três períodos assistenciais apresentados,
interessa-nos realçar a fase solidária em que se situa todo o contexto
histórico. O objetivo das práticas de proteção dispensadas às crianças em
situação de abandono iniciou-se na Idade Média, onde já se constatava o
abandono em massa e o aborto massivo, consideradas como práticas sociais repugnáveis.
Os hospitais passaram a receber e assistir crianças desamparadas. Existe uma
situação histórica sucedida ao lado do Vaticano, onde existia um hospital
destinado acolher os expostos a mando do Papa Inocêncio III datada entre os
anos 1198 a 1216 que comoveu a comunidade daquela época, após ter conhecimento
dos pescadores que haviam retirado do rio Tibre um grande número de bebês vítimas
de infanticídio. A prática de abandonar os filhos não era comum entre os
indígenas e os escravos, esse costume chegou aos países da América do sul por
um processo de colonização realizado pelos Portugueses e Espanhóis, com enorme influência
da igreja católica, quebraram as normas e os valores ético morais daquela
sociedade. Assim, as relações maritais foram controladas pelos teólogos e
legisladores que aplicaram diversas regras morais e leis civis de forma a propagar
o sagrado casamento realizado pela igreja católica. O Concilio de Trento promulgou
leis a favor do casamento, por outro lado, também reafirmaram a legitimidade do
casamento como uma forma de disciplinar ou controlar os desejos carnais, embora
não fosse o ideal para a santidade, casar era uma alternativa para aqueles que
não conseguiam conter os seus instintos sexuais mesmo em relações aprovadas
pela igreja, seriam controlados os instintos por meio do confessionário. A
catequese foi o instrumento de normalização dos desvios comportamentais dos
indivíduos, de forma pudesse ser interiorizada as boas condutas. O sexo deveria
ter por finalidade a reprodução que justificasse os seus fins. Além disso, o
casamento representava a conservação da estrutura social definida pela
sociedade, o meio pelo qual os preceitos religiosos eram introduzidos nos lares
entre os fiéis.
Nesse contexto,
as relações sexuais que não se encontravam dentro dos parâmetros morais
instituídos pela igreja eram sancionadas na prática de crime.
O Santo Oficio e os Tribunais Eclesiásticos
solicitaram muitos processos por conta de homens e mulheres que não prosseguiam
em consonância com a fé cristã sobre o tema da sexualidade, contudo o
concubinato e outras relações classificadas como ilícitas que existiam em
grande número na sociedade portuguesa, principalmente entre a população pobre e
escrava. O custo do casamento teria sido um dos estorvos para a realização de
normas que regulasse as relações conjugais, excluindo todos aqueles que não
podiam pagar pela cerimónia.
A pressão
exercida pelos religiosos para o enquadramento das boas condutas humanas,
talvez fosse um dos fatores que levou à exposição de crianças geradas a partir
de concubinato e adultério que eram práticas reprovadas socialmente, no qual, muitos
bebês eram abandonados por questões éticas e morais. Entre mulheres brancas, o
enjeitamento era ainda mais usual nas mulheres brancas da alta sociedade e
solteiras, por terem maior sofrimento com o controle da sua moral por parte da
sociedade, temendo inclusivamente pela sua própria vida. Esta tendência era
menor entre os casais pobres cujos filhos significavam mão-de-obra barata para
as tarefas domésticas e agrícolas. O abandono de crianças foi um fenómeno eminentemente urbano, considerado o locus horrendus da alta sociedade branca
devido ao seu poder totalitário.
O meio
rural é caraterizado por uma economia de subsistência das famílias numerosas
pobres que se alternavam no cuidado das crianças mais jovens, para que mais
tarde colaborarem nas tarefas agrícolas. As crianças não poderiam ser
aproveitadas de igual maneira nos centros urbanos, pois nestes locais, a
produção era exclusivamente industrial e exigia uma determinada especializacão da mão-de-obra profissionalizada.
Christopher Brandão, 2016
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